Capitulo 6: Romeiros: O Encontro | Experiências de Fé na Romaria Diocesana de Jales

 

              
Compreendendo o que é Romaria:

           

Andor de Nossa Senhor da Assunção sendo levado durante a Romaria Diocesana de Jales

O munícipio de Jales é situado no interior paulista, precisamente na região noroeste do Estado, lá temos instalada a Diocese de Jales, local onde anualmente temos a Romaria Diocesana de Jales, considerado um dos maiores eventos católicos do interior.

Antes de compreendermos ao certo o sentido, a razão da Romaria de Jales, iremos compreender um pouco sobre o que se trata uma Romaria e o processo histórico que a faz característica para Devoção Popular.

            Conversamos com o professor e historiador Rafael Mesquita Diehl, ele nos elucidou que Romaria se origina das peregrinações que eram feitas à Roma, “Durante a Idade Média, a Cristandade Ocidental possuía, além da Terra Santa (local sagrado visitado por todos os cristãos) outros grandes centros de peregrinação: Roma (ligada aos Apóstolos Pedro e Paulo), Santiago de Compostela (ligado ao Apóstolo São Tiago Maior, filho de Zebedeu), Tours (ligada ao mártir e bispo São Martinho de Tours), Colônia (ligada aos restos mortais dos Reis Magos) e outros que foram surgindo”, disse.

Professor e Historiador Rafael Mesquita Diehl


            Rafael contou que com o Concílio de Trento, a Reforma Católica e a Contrarreforma, “a espiritualidade católica foi centrada na frequência sacramental e no exercício de práticas de devoções diárias. Além disso, a figura do bispo foi realçada com a instituição das obrigatoriedades das visitas pastorais. A Igreja passou a investir mais nas missões aos povos no Novo Mundo da África e da Ásia”, comentou.

            No entanto, Rafael salienta que Portugal e os Reinos da Espanha estavam sob regime de Padroado Régio e Rafael explica que, “o Papa concedia ao monarca direitos de administração e governo dos cargos e bens eclesiásticos, como nomeação de bispos, criação de seminários, pagamento dos rendimentos do clero, etc.”. É dessa forma que Rafael considera que as normas canônicas tridentinas não entraram muito na vida da Igreja na Península Ibérica e em suas colônias e Rafael comenta que, “havia no Brasil especialmente uma falta de clero maior do que na América Espanhola (que já possuía seus próprios centros de formação do clero e universidades, enquanto o Brasil ainda dependia das universidades, colégios e seminários portugueses para a formação de seu clero) e às novas práticas de devoção pessoal (novenas, orações privadas, etc.)”.

            É neste sentido que começaremos a entender mediante a fala de Rafael, como práticas devocionais como Romarias entraram na tradição popular do povo brasileiro, afinal Rafael diz que, “o catolicismo popular brasileiro possui práticas mais próximas de devoção medieval do que da devoção tridentina” e considera que “muitas dessas tradições permaneceram mesmo após o Concílio Vaticano II e tem sido novamente vistos como uma fonte de revitalização da Igreja no contexto latino-americano, como o Papa Francisco coloca na Evangelli Gaudium a importância de valorizar a Devoção Popular”.

 

            A Romaria Diocesana de Jales

 

            Conversamos com o Padre Miguel Garcia, pertencente à Diocese de Jales e atual administrador paroquial da Paróquia São Bernardo de Fernandópolis. Pe. Miguel nos disse que a Romaria Diocesana de Jales é dedicada a Nossa Senhora da Assunção e comumente é celebrada no 3º Domingo de Agosto (com exceção do ano de 2020, que por conta da pandemia da COVID 19 foi adiada para Festa de Cristo Rei), Pe. Miguel nos diz que a Romaria traz a pretensão decelebrar exatamente o aniversário da nossa Padroeira, Nossa Senhora da Assunção e também a instalação do Bispado, nossa Diocese, que foi criada no dia 12 de dezembro de 1959 pelo Papa São João XXIII e foi instalada no dia 15 de agosto de 1960”.

Padre Miguel falou que no ano de 1985, quando foi à primeira Romaria Diocesana, esta se deu pelo motivo da celebração do Jubileu de Prata, “Dom Demétrio estava no seu 3º ano de bispo aqui na Diocese e ele conduziu, então naquele momento uma grande multidão que respondeu prontamente a essa caminhada Diocesana da nossa Igreja, a fazer essa caminhada saindo da antiga Facip, que era o Centro de Exposições Agropecuária de Jales, um ponto de referência na época e foi de lá que saiu a caminhada até a Catedral e esse primeiro ano a caminhada foi sendo conduzido o Cruzeiro da Fundação do Munícipio de Jales, até então que estava abandonado num terreno de um dos bairros da cidade, e esse Cruzeiro foi reimplantado ao lado da Catedral e hoje ele está dentro da Catedral pra ser preservado, sinalizando a centralidade de Cristo na Igreja, tanto é que ele está ali justamente para ser preservado, por ficar no tempo, chuva, sol, madeira vai corroendo, então, por isso hoje ele está dentro da Igreja da Catedral para ser preservado”, explicou Pe. Miguel.



            Ainda foi elucidado pelo Padre Miguel que a Romaria é importante para compreendermos a manifestação e sentimento de fé do Povo, “o povo que caminha, o povo que se encontra, o povo que pela devoção a Nossa Senhora se aproxima ainda mais de seu filho Jesus Cristo”, comentou.

Padre Miguel nos disse que “as pessoas que sempre vão para Romaria sempre tem intenções, escutamos muito o povo falar, ou vão para pedir alguma coisa, agradecer algum milagre, uma bênção recebida, por intercessão de Nossa Senhora, pessoas que naquele sol quente das 14 horas que começa a Romaria, muitos fazem o trajeto descalços, procurando realmente demostrar à devoção, o amor, o respeito que existem a Deus por intercessão dos santos, principalmente de Nossa Senhora, que é mãe, companheira, ela que caminha conosco por todos os momentos, principalmente nessa caminhada de fé e de peregrinação” refletiu.


Foi também salientado por Padre Miguel o respeito, o sentimento de piedade, devoção, e completou com a fala: “tudo isso acaba sendo carregado junto com a fé do povo, que caminha naquelas ruas da cidade de Jales, vindo de todas as cidades e bairros das nossas comunidades, Paróquias da Diocese de Jales, que se encontram ali – milhares e milhares de pessoas, procurando demostrar um gesto de gratidão ou de pedidos que se aproximam do altar de Cristo, naquele momento de Celebração Eucarística a cima de tudo”, elucidou.

            Durante a conversa, Padre Miguel explicou que enquanto presbítero, ele não participou de todas, mas na maioria das Romarias, “sempre com fé, com essa piedade, realmente acompanhando, rezando, junto com o povo e isso pra nós, vocacionados, pra nós padres é com certeza uma grande injeção de ânimo, é um grande incentivo pra nossa fé, pra nossa vocação, ver tamanha quantidade de fiéis, que se aglomeram ali, pedindo a Deus, agradecendo a Deus por tantas obras, benefícios, que recebem das mãos de Deus por intercessão de Nossa Senhora, então tudo isso e claro, bem resumido eu partilho com muita emoção, muita gratidão a Deus, com certeza minha família que sempre participou, eu sempre fui com minha mãe, principalmente, desde o início da Romaria (as primeiras Romarias), depois já como seminarista, como padre, aí sim nunca perdi as Romarias que nós tivemos”, disse Padre Miguel.


            Em 2020, a Diocese de Jales completou suas Bodas de Diamante, ou seja, 60 anos de história diocesana e Padre Miguel comentou que “vamos percebendo que esses 60 anos de nossa Diocese, desde o primeiro bispo Dom Arthur até o nosso quarto bispo, Dom Reginaldo, muitas alegrias e tristezas, foram, continuam sendo partilhadas por esse povo, com fé, esperança, em busca sempre de crescer em Direção a Cristo, muitas histórias são recordadas nas Romarias, fortalecendo assim a caminhada e a missão da Igreja Particular de Jales”, Padre Miguel ainda lembrou que os temas celebrativo das Romarias são “temas associados à Maria e fundamentados na Palavra de Deus”.


Padre Miguel enfatizou que a Romaria tem o cunho vocacional e disse que todos os anos é feito a coleta vocacional, “momento de apresentação dos seminaristas diocesanos, a caminhada vocacional dos nossos seminaristas, com todo Clero reunido, isso é sempre muito bom, importante, e os encontros que são feitos em preparação para Grande Romaria, esse é muito especial, muito importante, quando as comunidades procuram se reunir em pequenos grupos, os grupos de família, de quarteirão, como nós conhecemos em nossa Diocese que é muito forte e ali já vão se preparando, vão aprendendo o ritmo, o clima da Romaria com esses encontros preparativos para o grande momento celebrativo final que se dá no dia da Romaria Diocesana”, falou.

 

            Romaria em Família

           

            A família Vieira criou a tradição de irem juntos todos os anos para a Romaria de Jales. Conversamos com os membros dessa família para entendermos melhor o que seria essa ida anual e como os mesmos dizem os mesmos, “sagrada” até essa Romaria.


            Ilda Vieira comentou que chegou ao distrito de Brasitânia no ano de 2008, logo depois seu esposo, Pedro Vieira, porém como ela foi a primeira da família a chegar no interior paulista, no ano da chegada não chegou a ir a Romaria de Jales, “Nós começamos a ir para Romaria uns 3 anos depois que estava aqui, foi em 2012 mais ou menos”, comentou.

Ela ainda disse que ia quem estava em sua casa para a Romaria, “a Silmara (filha de Ilda) não veio de imediato, veio primeiro a Yasmin (neta de Ilda e filha de Silmara) e o Marcos (neto de Ilda e filho de Silmara) que começou a ir para Igreja e consequentemente ir para a Romaria, depois a Silmara veio, aí começou a ir todo mundo”, falou, “mas de inicio era apenas eu, meu marido, o Marcos e a Yasmin que íamos”.


Já houve momentos em que além dos membros da família que residem em Brasitânia, outros que antes não residiam e hoje residem, ao virem, foram também, “a Ana (filha de Ilda) veio (residia em São Paulo na época) e foi, a Ana e o Bruno (neto de Ilda e filho de Ana), ela veio passear, foi para Romaria e depois voltou para São Paulo”, comentou, “de todos os anos, só houve um ano que eu não fui, uma vez que foi o meu aniversário, minhas filhas estavam todas aqui, elas não quiseram ir e eu não quis deixa-las sozinhas, mas este foi o único ano que não fui, desde quando comecei a ir”, disse.

Ilda comenta que ir para Romaria em família é “tudo de bom” (SIC), “todo mundo junto, a gente se reúne na frente da Igreja assistindo a Missa, dá uma ‘passeadinha’ (SIC), vai na lojinha paroquial, é gostoso e a gente se sente bem, pois estamos com toda família, porque se falta alguém, você fica com aquele pensamento, ‘poxa, fulano não veio’, mas nós estamos todos juntos, nós nunca fomos sozinhos”, disse, “já é um passeio anual”, comentou Yasmin, “parece que aquilo é sagrado, não pode faltar”, completou Ilda.

Silmara Vieira lembrou do primeiro ano que a Romaria já não saiu mais da Facip e sim da Paróquia Santo Expedito, Silmara refletiu sobre a experiência de conhecer a Paróquia, “o povo se sentiu acolhido naquela vez, que ele (Dom Reginaldo) veio até tirar foto com a gente”, recordou Silmara do primeiro ano do episcopado de Dom Reginaldo (2015), que precisamente foi o ano em que trocou-se a saída (antes da Facip, hoje da Paróquia Santo Expedito de Jales) da Romaria até a Catedral.

“Minha experiência não posso dizer sozinha, porque sempre estivemos em família, eu nunca estou ali sozinha”, disse Ilda, “a experiência é mutua, a mesma emoção que eu sinto, a Silmara sente, pois estamos juntos e os amigos também, é gostoso, você sente a presença dos amigos, a família junta e é um passeio que você não cansa, você anda tudo aquilo, você chega na praça, não tem cansaço, não tem dor nas pernas”, completou.

“É como quando vamos para Aparecida”, disse Pedro Vieira, “não conseguimos ficar parados, andamos e não cansamos, estamos com a cabeça limpa, despreocupado”, completou Pedro, “quando chegamos de lá, há uma paz tão grande dentro da gente, parece que o peso ficou tudo lá e nós voltamos aliviados, renovados”, disse Ilda.

“Parece que conforme a caminhada as coisas vão ficando mais leves para a gente”, disse Silmara, “cada Romaria”, comentou Silmara a qual Ilda disse que “se tira uma nova lição”.

Silmara lembrou que pela família ir reunida, eles inspiraram mais pessoas a fazerem a peregrinação.

“Aqui somos uma comunidade bem pequena”, comentou Yasmin, “nossas equipes e grupos são pequenos, quando vamos lá as equipes são maiores, eles motivam a gente para participar, então o que me toca é a união, a força que nos passa, afinal mesmo sendo uma comunidade pequena, lá somos reconhecidos, representados”, lembrou.


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