Capitulo 3: Saudades de minha terra
Maria Natalina da Silva, baiana,
nascida em Paramirim cidade do Estado da Bahia, hoje com 88 anos mora no
Distrito de Brasitânia, pertencente ao município de Fernandópolis do Estado de
São Paulo.
Longe de suas origens,
com muito saudosismo e com brilho no olhar, dona Maria recordou o que viu,
viveu e as experiências que guarda na memória das devoções, que não apenas
participou, como também viveu em sua terra natal.
Maria contou
que não chegou conhecer a Lapa do Senhor Bom Jesus (um dos principais símbolos
da devoção do povo baiano), porém seu pai havia levado um número significativo
para peregrinação, “meu pai levou um caminhão cheio para Lapa do Senhor Bom Jesus”, disse. Ela recordou que um
senhor amigo da família, de nome Aprígio
pediu que esperasse até agosto (do ano que o pai de Maria havia feito a
Romaria), para que fosse com ele e sua família, “Seu Aprígio ficou doente e
acabou morrendo”, recordou “foi dessa forma que acabei não conhecendo a Igreja
do Senhor Bom Jesus da Lapa”, falou. “Meus familiares, conhecidos foram, mas eu
não tive a oportunidade de conhecer”, ponderou.
As procissões de Sexta Feira Santa
“Quarta,
quinta e sexta (da Semana Santa) a gente não comia carne, meu pai não permitia
nem que eu e minhas irmãs penteássemos nosso cabelo”, rememorou.
Ela recordou
que na Sexta Feira Santa muitas pessoas se reuniam formando uma procissão em
longas estradas de terra, “com a cruz na frente e povo rezando atrás, até quando chegávamos numa casa que ficava distante
do lugar onde tínhamos começado, lá nós colocávamos a cruz na frente da casa da
pessoa, o dono da casa saía, via que estávamos em procissão, perguntava se
queríamos comer e nós respondíamos: ‘nós não queremos nada, só queremos seguir
com a procissão’, o dono agradecia e muitos seguiam com a gente”, disse.
Maria ainda
recordou a precariedade das estradas, mas comentou que valia a pena pela fé de
cada qual que ali estavam. “Lá se encontravam muitos devotos”, considerou.
Lembranças de sua mãe
“Minha mãe
rezava lá em casa! Meu pai havia feito um oratório onde tinha a imagem de Jesus
e mamãe pedia para suas amigas, colegas rezarem ladainhas e o Ofício de Nossa
Senhora, vinham muitas mulheres rezarem em casa, mamãe no final, servia café
com requeijão”, apreciou.
Festa de São João
Maria ainda
falou sobre as festas de São João, “cada casa tinha uma fogueira, ali o povo
assava quarto de leitoa, quarto de bode, a batata doce, quando a
fogueira estava apagando e ficava apenas o braseiro,
a gente enterrava nesse braseiro e
deixávamos quase dois dias, quando tirávamos já estava assada”, relembrou.
Ela ainda nos
disse que eram rezados terços durante os dias que se faziam essas
confraternizações, “o povo rezava terço e depois iam comer todas essas coisas”,
lembrou.
“Meu pai enxia
o topo do mastro de Santo Antônio de laranja e fincava na fogueira, ao amanhecer do dia o mastro havia queimado e
caí no chão, eu, minhas irmãs e muitas crianças íamos pegar as laranjas que
estavam no mastro caído”, disse.
Cruzeiro, uma procissão em busca de chuva
“Nós íamos,
cada uma com uma cabacinha de água”, iniciou Maria contando sobre as procissões
que eram feitas em tempos de seca para molhar o Cruzeiro em busca de chuva,
“nós íamos cedo e ficávamos até a tarde molhando o cruzeiro, haviam pessoas que
iam descalços, nós fazíamos por nove dias, no nono, quando a novena se
aproximava do fim a chuva vinha”, disse. Maria ainda recordou que todo percurso
era feito com o povo orando e fazendo preces, além do terço.
Não foram
apenas lembranças. Maria nos contou parte constituinte da sua vida, sua
história, não pode-se dizer de memórias que ficaram no passado, mas uma fé que
formou a mulher de 88 anos temente a Deus. São fatores como esses, que
perpassam a existência e a biografia de cada indivíduo, que estando e sendo
parte da sociedade, não nos ajuda apenas a celebrar a nossa cultura, como
também a “História da Fé de um Povo”.
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